domingo, 1 de março de 2009

O CALENDÁRIO LITÚRGICO

Imaginemos uma dona de casa preparando a lista de compras do mês. Acredito que ela deverá colocar em ordem, no papel, aqueles itens que serão mais importantes, que deverão ser comprados, prioritariamente, e, em seguida, acrescentará aqueles que são necessários, porém, não tão prioritários. Isso é feito para se prevenir contra situações em que o capital seja insuficiente para comprar todos os itens da lista. Podemos fazer uma comparação semelhante com relação à liturgia.

Semelhante ao exemplo da dona de casa, organizar a liturgia é um caso de planejamento. Denise Frederico[1] aponta que “fazer liturgia é como projetar uma casa” (2004, p.15). A liturgia serve para projetar e preparar toda a estrutura do culto cristão. Um culto cristão sem liturgia é semelhante a um time de futebol sem estratégia, ou seja, desorganizado. É para isso que serve a liturgia: para zelar pela organização do culto. Quem organiza a liturgia, ordena as partes do culto, de acordo com as suas concepções de culto e de acordo com a doutrina da denominação a qual pertença.

A liturgia serve para desenhar o culto, e todos os elementos verbais e não verbais fazem parte dela. Os elementos verbais seriam todos aqueles onde há a verbalização de quaisquer palavras, sejam proferidas pelo oficiante ou pela congregação; já os não-verbais seriam todos os símbolos que estão presentes no templo (cruzes, imagens, velas, altar, cálice etc.), bem como as coreografias, vestes sacerdotais e o sodalício do altar para nós Anglicanos.

Em nossa liturgia Anglicana, temos a exposição do Plano de Salvação, que nos lembra, por meio do Rito Eucarístico, a morte e ressurreição de Jesus. Nossa liturgia enfatiza também o fato de que Deus se fez homem, habitou entre nós, e Se entregou em sacrifício pelo perdão dos nossos pecados, mostrando o que está contido em João 3: 16, que diz: “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Todos os Domingos, por meio do pão, que simboliza o Corpo de Cristo, e do vinho, que representa o Seu sangue, entregues à congregação no sacramento da Ceia do Senhor, lembramos ainda que Jesus subiu aos céus, mas crendo que voltará para buscar aqueles que lhe foram fiéis (a segunda vinda). Vale aqui enfatizar que cremos na presença real de Jesus Cristo no momento da ceia, mas não na transubstanciação, como crêem os Católicos Romanos. Pelo culto celebramos todas as maravilhas que Deus fez, e as muitas que ainda fará.

Uma estrutura litúrgica básica divide o culto em duas partes: Liturgia da Palavra e Celebração da Eucaristia. Na primeira parte temos a exposição de trechos das Sagradas Escrituras com momentos de explicação/interpretação dos textos, seguido de um momento de oração de intercessão. A segunda parte está voltada para a Celebração da Eucaristia, que começa com o preparo da mesa, seguido da Oração Eucarística, dividida em um momento de diálogo, ação de graças, narração da instituição da Ceia do Senhor, anamnese (reatualização em grego), epiclese (momento em que se pede o envio do Espírito Santo pelo Deus-Pai) e a doxologia de encerramento. A esta estrutura básica, acrescentaram-se, no decorrer do tempo, outras partes, como o Kyrie eleison (Senhor, tem piedade de nós), a saudação do oficiante seguida da Coleta (oração do dia e não coleta de ofertas, que tem seu momento específico), o canto do Gloria in excelsis (este acrescentado por volta do ano 1000 d.C), e, mais recentemente, a Confissão de Fé, por meios dos Credos, sendo um dos mais antigos o Apostólico, o qual geralmente recitamos em nossos cultos dominicais:

Creio em Deus-Pai, Todo-Poderoso criador do céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo Seu único Filho, Nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu; está assentado à mã direita de Deus-Pai Todo-Poderoso, de onde há de vir a julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa Igreja católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; na vida eterna. Amém.

Esta é uma dentre as profissões de fé existentes, surgidas nos momentos em que as heresias cresciam, e tornou-se necessário aos cristãos relatar em que criam, reforçando a sua fé.

Dentro da liturgia, temos o chamado Calendário Litúrgico “cuja função é dar relevo aos feitos divinos”[2]. Este Calendário Litúrgico serve para lembrar as datas cristãs mais importantes. Por meio do Calendário Litúrgico comemoramos os feitos de Deus por meio de Jesus Cristo. Lembramos o que Ele fez e apontamos para o que Ele faz e fará na vida de cada cristão por meio da ação do Espírito Santo. O Calendário serve para guiar as comemorações cristãs durante o ano. Ele caminha ao lado do calendário cívico, mas não em congruência com o mesmo, devido a temporalidade das festas cristãs, que não coincidem com os dias deste.

Dentro do calendário cristão, o dia mais significativo é o Domingo, pois após a morte de Jesus, os cristãos passaram a se reunir no primeiro dia da semana (Domingo), por ter ocorrido neste dia a ressurreição de Seu Mestre. Temos a base bíblica para o culto nos Domingos em Mateus 28: 05-09, Marcos 16: 01-08, Lucas 24: 36-49 e João: 19-23. O próprio significado da palavra Domingo corrobora para os cultos dominicais: Dia do Senhor (em latim: dominicus dies).

O Calendário Litúrgico é caracterizado pelo tempo comum e pelo tempo não-comum. Este é o mais importante, por ser caracterizado pelos dias mais significativos do calendário cristão. O Calendário Litúrgico apresenta três ciclos: Natal, Páscoa e a seqüência dominical que lembra a ressurreição de Jesus, ocorrida num Domingo.
O ciclo do Natal começa com o Advento, é coroado com o Nascimento do menino Jesus, comemorado no dia 25 de dezembro do calendário cívico, e termina com o Batismo do Senhor Jesus, oito dias depois.

O ciclo da Páscoa tem início com a Quaresma, que consiste nos quarenta dias que vão da quarta-feira de cinzas até a quinta-feira santa. Com a Semana Santa tem início a celebração da Páscoa, que começa no Domingo de Ramos, que lembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e vai até o Domingo da Ressurreição, ápice da Semana Santa. Esta festa é a mais importante do Calendário Litúrgico, ou pelo menos deveria ser, pois existem Igrejas evangélicas que não comemoram a Páscoa pelo fato de que a Igreja Católica Romana também o faz. Em virtude deste preconceito irracional, muitas Igrejas preferem celebrar em seus templos festas judaicas que nada têm a ver com as cerimônias cristãs, do que adotar práticas e cerimônias realmente ligadas às nossas festividades.

Após o Domingo da Ressurreição, tem início o tempo Pascal, que se estende até o Domingo de Pentecostes. Neste interim ocorrem duas solenidades: a Ascensão do Senhor Jesus e a festa do Pentecostes, 50 dias após a ressurreição de Cristo.

O Tempo Comum está associado aos dias em que vamos ao culto dominical para adorar a Deus e está dividido em duas partes: a primeira que vai do dia seguinte ao Batismo do Senhor até a terça-feira anterior à quarta-feira de cinzas. A segunda parte estende-se da segunda-feira após o Domingo de Pentecostes à véspera do Advento. Dentre as festas temáticas do tempo comum, nós, protestantes históricos, comemoramos o Dia da Reforma (31 de outubro).

O uso das cores litúrgicas obedece ao calendário litúrgico, conforme podemos observar na figura abaixo:





São seis as cores litúrgicas, introduzidas no culto cristão a partir do século XII. Usa-se o branco na Páscoa e no Natal, e ele simboliza divindade, luz, pureza, alegria e vitória. Pode ser substituído em algumas denominações pelo amarelo-ouro. O vermelho lembra o fogo do Espírito Santo e o sangue, e é usado no Domingo de Pentecostes, na sexta-feira da Paixão, nos dias de aniversário das Igrejas locais e nos dias de Ordenação de Clérigos. É também a cor dos mártires e do Dia da Reforma. O verde é usado no tempo comum e nos dias da semana, e simboliza vida, esperança e crescimento. O roxo ou lilás simboliza penitência e serenidade, e é usado no Advento e na Quaresma. O azul, que expressa a esperança e, segundo os Metodistas brasileiros, a comunhão, sendo, portanto, a cor ideal para uso no templo. Existe ainda o preto, que é sinal de tristeza e luto, e, por isso, pouco usado e pouco recomendado em nossa denominação para uso no templo, podendo os pastores usar um típete preto em conferências ou palestras, quando convidados, situações em que sua presença tenha um caráter mais acadêmico do que sacerdotal.


REFERÊNCIAS


FREDERICO, Denise C. S. O que é liturgia? Rio de Janeiro: MK, 2004.

BÍBLIA SAGRADA. Edição Revista e Corrigida. Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.





[1] FREDERICO, Denise C. S. O que é liturgia? Rio de Janeiro: MK, 2004.
[2] FREDERICO, Denise C. S. O que é liturgia? Rio de Janeiro: MK, 2004. p.35.

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